domingo, 2 de outubro de 2011

MODULO: LEITURA

A COESÃO TEXTUAL E A CHARGE
Verônica Palmira Salme de Aragão (UFF; UFRJ)
As piadas veiculam seu discurso indiretamente, até porque, em certos casos, fazê-lo abertamente
criaria problemas graves para quem ousasse produzir determinados discursos.
(Sírio Possenti, 1998)
O objetivo deste estudo é analisar os diversos recursos que ocorrem no âmbito da coesão textual nas charges. Esse processo de co-referenciação nesse gênero exerce, além do papel de relacionar
um signo a um referente extratextual, o de ligar diferentes campos semânticos. Pretende-se verificar como os processos de co-referenciação podem contribuir para esse intrigante gênero
que critica ferozmente os acontecimentos políticos diários, apoiados no humor.
De acordo com Ducrot e Todorov (2001, p. 229), “as línguas naturais têm com efeito o poder de construir o universo ao qual elas se referem; podem pois obter um UNIVERSO DE
DISCURSO imaginário”. Nas charges, esse universo se amplia, visto que muitas vezes os signos verbal e não-verbal se complementam e contribuem conjuntamente para a construção do sentido. A análise do corpus parte da observação dos diferentes recursos de coesão nas charges dos quatro principais jornais do Rio de Janeiro: O Globo, Jornal do Brasil, O Dia e Extra. Todas colhidas no mês de março de 2006.
Os estudos gramaticais da tradição, mesmo com ênfase nos aspectos formais da língua e com a tentativa de fugir dos percalços provocados pelo sentido, contribuíram de alguma forma para
os estudos do texto. Somente com a crítica a essa gramática excessivamente normativa foi possível verificar a necessidade de considerar o texto nos estudos lingüísticos para que as regras não tenham o fim em si mesmas. Lendo ou escrevendo, o falante precisa dominar a(s) língua(s) a fim de que possa utilizar as estratégias discursivas exigidas nas situações reais. Pode-se afirmar, então, que é preciso valorizar os acertos verificados nesses estudos e reformular o que for necessário.
Com o avanço da Lingüística Textual, propicio propiciou-se um maior entendimento da língua a partir da elaboração de conceitos voltados para a apreensão de significados no texto e mesmo no
discurso. Nesse sentido, a Análise Semiolingüística do Discurso, teoria proposta por Charaudeau, apóia-se na materialidade do texto para, só a partir dela, alcançar o sentido. O autor define o
processo de construção do sentido como semiotização do mundo segundo o qual um sujeito real, o comunicante, com uma determinada finalidade, dirige- se a um sujeito real, o interpretante.
Na perspectiva da linguagem, esses sujeitos recebem a designação de enunciador e destinatário respectivamente. Enquanto o primeiro realiza o trabalho de transformar um mundo a significar
em mundo significado (sentido-forma), o segundo tenta captar esse mundo significado de acordo com suas competências comunicacional, discursiva e situacional. Charaudeau (2005, p.12) afirma que “a linguagem é multidimensional”, já que tanto nos processos de produção quanto de recepção são exigidos conhecimentos, lingüísticos, discursivos e situacionais.
A COESÃO TEXTUAL
Não há um consenso entre os autores quanto a uma definição para a coesão. Segundo Beaugrande e Dressler apud Val (2000 p. 38), a coesão diz respeito ao aspecto formal do texto,
sendo responsável pelas relações formais estabelecidas em sua superfície. Halliday e Hasan apud Fávero (1995, p. 13) acrescentam que um texto se caracteriza por sua relação semântica de coesão. Entendem, portanto, que a coesão é responsável pelas relações presentes em um texto. Com isso, enfatizam o papel da coesão sobre a coerência textual. No Brasil, também há diferentes pontos de vista sobre esses estudos. Fávero (1995) questiona algumas propostas de classificação
de coesão e fundamenta-se numa que considera a função dos termos coesivos. Procede-se a um quadro apresentado por Fávero (1995, p. 58) em que são apresentados os fatores de coesão:

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