terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Enunciação, Discurso, Pragmática e Semiótica

Distinção entre atos de fala diretos e atos de fala indiretos

Essa falta de correspondência biunívoca entre a estrutura sintática dos enunciados (declarativa, interrogativa, imperativa etc.) e o seu valor ilocucionário (de asserção, pergunta, ordem, pedido etc.) levou a se estabelecer uma outra distinção no interior da teoria dos atos de fala: a distinção entre atos de fala diretos e atos de fala indiretos:


  • Um ato de fala é direto quando realizado por meio de formas linguísticas especializadas, isto é, típicas daquele tipo de ato. Há, por exemplo, uma entonação usada para perguntas; as formas imperativas são usadas para dar ordens ou fazer pedidos; expressões como por favor ou por gentileza são usadas para fazer pedidos ou solicitações. Eis alguns exemplos: Que horas são? (ato de perguntar); Saia daqui! (ato de ordenar); Por favor, traga-me um copo de água (ato de pedir).

  • Um ato de fala é indireto (ou derivado) quando realizado indiretamente, isto é, por meio de formas linguísticas típicas de outro tipo de ato. Nesse sentido, “dizer é fazer uma coisa sob a aparência de outra”. Eis alguns exemplos:
    • Você tem um cigarro? (pedido com aparência de pergunta) — Quem enuncia essa frase não está perguntando se o alocutário tem ou não um cigarro, mas está pedindo-lhe que ceda um cigarro.
    • Como está abafada esta sala! (pedido com aparência de constatação) — Normalmente, quem enuncia essa frase não está simplesmente fazendo uma constatação sobre a temperatura no interior do recinto, mas sim pedindo que o alocutário faça algo para amenizar o calor, como abrir as janelas, ligar o ventilador, o ar-condicionado etc.
    • Você pode fechar a porta? (pedido com aparência de pergunta) — Quem enuncia essa frase não está perguntando sobre a (in)capacidade física do alocutário de fechar a porta, mas sim pedindo-lhe que feche a porta. Seria estranho se o alocutário pensasse que a pergunta é mera curiosidade e respondesse simplesmente sim ou não.

Nesses casos, Searle (1982) denomina de “secundários” os atos de perguntar, constatar etc., e de “primário” o ato de pedir. No entanto, do ponto de vista da interpretação, pode-se dizer que o valor de pergunta e constatação é “literal”, e o valor de pedido, “derivado”.

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